• 8. Parte 08

    Assim, no dia reservado para o jogo de basquete das meninas, elas combinaram que todas iriam assistir à partida e levariam cartazes apoiando o time e o uso da quadra. As garotas começaram a chamar as amigas, as irmãs mais velhas, as primas e logo dezenas se juntaram a elas. Tudo em segredo, uma grande manifestação pacífica.  Todas iriam ajudar a garantir o direito de todos.

    Era uma quinta-feira ensolarada e as garotas tinham um brilho especial nos olhos e um sorriso maroto no canto dos lábios. O coração de Deia batia forte com o sinal do recreio.  O time de basquete entrou na quadra lotada ao som de aplausos. O jogo começou, e alguns minutos depois, 22 garotos se aproximaram com cara de bravos, mas nenhum deles abriu a boca. Ficaram assustados com a quantidade de meninas que ocuparam o ginásio sem nenhuma violência.  O time Mágico venceu o  Magnífico, mas as duas equipes se abraçaram e aplaudiram as torcedoras.

    — Foi o jogo mais emocionante que eu já vi — disse o professor Maurício, que fora convocado para assistir junto com a coordenadora Simone e a professora Lili, que fora convidada por insistência de Deia.

    A coordenadora Simone ficou encantada com a experiência que Lili tinha em Justiça Restaurativa dentro das escolas e convidou a facilitadora em processos circulares e mestra de Yoga para realizar um Círculo de Construção de Paz no colégio.

    — O que é isso? — mostrou-se interessado o professor de Educação Física. — Nós não deveríamos chamar os meninos e aplicar uma punição?

    — Se fizermos dessa maneira, a escola se baseará no modelo de justiça tradicional, retributiva, ou seja, a que foca no erro que a pessoa fez, procura os culpados para puni-los e judicializa os casos, sem apresentar bons resultados. Estou falando de Justiça Restaurativa, ou seja, iremos focar na restauração dos danos, ouvir os fatos, o ponto de vista das partes envolvidas no conflito, assim, entenderemos a necessidade que motivou a ação danosa e possibilitaremos que juntos busquem uma solução que satisfaça a todos.

    Um Círculo de Construção de Paz é um espaço seguro para dialogar e ouvir com respeito e empatia, sem julgamento e sem punição. Quando há um conflito, nós convidamos os envolvidos a participarem de um pré-círculo, onde explicamos o que vai acontecer e perguntamos se aceitam dialogar para encontramos juntos uma solução. Ofensores, vítimas e membros da comunidade com a ajuda de um facilitador, que os orienta a falar de como se sentiram e das suas necessidades não atendidas. Assim, eles reconhecem o ato cometido, percebem o dano ou dor que causaram no outro, se responsabilizam com a autonomia de apresentarem soluções possíveis que satisfaçam a todos. Depois, os acompanhamos para saber como se desenvolveu o combinado, ouvindo novamente a todos num pós-círculo. — explicou com veemência a yogini Lili.

    — Melhor que punição, que acaba caindo na reincidência, será que conseguiremos nos entender e diminuir os conflitos que geram a violência na escola? Temos tido um aumento dos casos de brigas, bullyings e até depredação da escola. Se isso der certo, vou precisar de muitos círculos sempre! — concluiu esperançosa a coordenadora Simone.  

    — Claro! A violência aumentou em todo o país e a escola também é afetada por receber os reflexos da sociedade. Vocês vão ver que a médio prazo, a Paz estará muito mais fortalecida no ambiente escolar e consequentemente na comunidade. Mas precisamos criar um ambiente acolhedor e seguro, que eles não tenham medo nem sejam expostos. O Círculo de Construção de Paz tem que acontecer num espaço onde todos possam ter vez e voz para falar sobre seus sentimentos, dores, angústias, alegrias, tristezas... com confiança e sigilo, assim, restabeleceremos os vínculos afetivos entre eles. — Prosseguiu com os ensinamentos a doce professora Lili.

    — Você consegue Maurício, conversar com os meninos? — Simone queria a participação do docente.

    — Sim! Tenho certeza de que depois de hoje eles vão refletir sobre seus atos.

    — Ótimo, eu falo com as meninas do basquete e acredito que a Deia deva participar também, afinal, ela provocou este nosso encontro com a professora Liliane.

    — Estou muito feliz em poder contribuir e disseminar a cultura de paz e não violência nas escolas. — falou com empolgação a professora de Yoga.

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