• 2. Parte 02

    Os primeiros colegas de classe chegaram e Deia logo esqueceu o ocorrido, e iniciaram a discussão sobre a apresentação que fariam. Depois de escolherem uma música caipira, combinaram as funções de cada um e foram para a sala de aula.

    Na semana seguinte, as monótonas paredes agora traziam imagens divertidas da Iara, do Saci Pererê, da Mula Sem Cabeça e do Curupira.

    De repente, um menino na multidão gritou:

     O Gustavo é o saci!

    E todos riram. Menos Gustavo, claro, e Deia, que correu para o amigo e disse:

    Não liga Gugu, eles não sabem como você fica triste.

    Mas, Gustavo  com seu coração apertado como se alguém o estivesse esmagando e com uma raiva revirando seu estômago  ficou com a testa enrugada, as sobrancelhas fechadas, as narinas mais abertas e correu para chutar o menino que o chamou de saci. E a boca destrambelhou a xingar a todos. Ainda bateu num menino magrinho que passava por ali e sem querer esbarrara nele.

    Deia viu Gustavo e o menino que o chamara de saci serem levados para a diretoria pelo professor Maurício, de Educação Física. Gugu havia perdido a razão, agira sem pensar e os dois foram suspensos. 

    — Você soube? Gugu vai ficar três dias em casa — Mariana cochichou para Deia.

    — Sim, eu fiquei sabendo, mas tinha razão de ficar chateado, não acha? O que fizeram com ele é racismo. Nós não podemos aceitar, é preconceito. 

    — Sei lá, o que é que tem? Era brincadeira. Todo mundo fala isso pros meninos negros.

    — Todo mundo, não, né Mari. Eu nunca falei. E se o Gugu não estava rindo, então, ele não gosta dessa brincadeira e se a gente é amigo, devia respeitar e não chamá-lo assim. Meu pai fala que ninguém deve ser tratado diferente pela sua cor de pele ou religião.

    — Tá, mas ele bateu feio no outro menino.

    — Nessas horas é preciso respirar bem fundo e pensar antes de fazer. Mas, como a gente se controla com todo mundo rindo?

    — Sei lá, respira fundo. Não é o que todo mundo diz?

    — Ele estava certo em reclamar, mas a forma como ele reagiu tirou a razão dele.

    — Violência gera mais violência, minha mãe sempre diz! — Mariana avistou outra amiga e logo foi contar a novidade.

    Deia sabia disso e lembrou que havia ouvido a professora Lili falar com a mãe dela nas aulas de Yoga, que para se manter em paz era preciso aprender a controlar as emoções.  “Se a gente se deixa levar... acaba sempre arrependido!” Mas sabia que era muito difícil aprender a lidar com os sentimentos. Lili, ensinava a respirar bem fundo, três vezes, e pedia para contar até dez sempre que Deia sentisse raiva de algo ou alguém. A menina tentava fazer isso antes de responder mal, queria muito conseguir ter o controle sobre si mesma.

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