• 1. Parte 01

    A menina pulou da cama para ir se arrumar. Era gostoso rever a turma depois das férias de julho. Deia vinha conversando com eles pela rede social sobre o que fariam para a semana do folclore, uma tradição na pequena escola de seu bairro, todos os anos participavam e até os pais preparavam comidas típicas de suas regiões. Os corredores do colégio ficavam repletos de cartazes coloridos com as personagens das lendas brasileiras. 

    O café que a mãe preparava na cozinha exalava um cheiro bom. Devia chegar cedo, pois havia combinado com a turma de decidirem sobre a festa, tinham que avaliar se fariam uma apresentação de música, teatro ou contação de histórias. Deia estava empolgada, deu bom dia para a mãe e a abraçou pela cintura, enquanto D. Ana lavava a louça apressada para ir ao trabalho. A menina prometeu que deixaria tudo limpinho na hora do almoço, sempre cooperava com a mãe, na limpeza da casa. Só não gostava de levar o lixo para fora, mas sabia que alguém tinha que fazer aquilo, e revezava com o pai, trocando de tarefa e levando o cachorro Cacau para passear.

    Deia se sentou, comeu rapidamente e quando a perua buzinou, saltou da cadeira, gritando tchau já do lado de fora, enquanto fechava o portão. Era um lindo dia de sol.

    Ao chegar ao colégio, viu uma menina pequena nova, que chorava num cantinho e, como não gostava de tristeza e sempre queria ajudar, foi logo perguntando a ela o que havia acontecido.

    — Um menino levou minha peteca, tirou ela de mim porque era mais forte e disse que agora era dele. Foi minha avó que me deu, era a única lembrança que eu tinha dela. — As lágrimas escorriam e o coração de Deia foi ficando apertado. —Isso está errado!

    A pequena fechou os olhos num suspiro forte e Deia lhe apertou em um abraço protetor. Ela já tinha passado por uma situação parecida quando entrou na escola e lembrou bem como havia se sentido sozinha e desprotegida.

     Vou falar com a sua professora, ela é ainda mais forte e poderá nos ajudar a ter a sua peteca de volta.

     Eu tenho medo!  disse a menina e foi embora correndo.

    Deia ficou olhando, pensando... Ela nem sabia o nome da criança, nem de que classe era. E a tristeza foi tomando conta dela. Seria bom, se todos fossem legais com os novos alunos, mas o que via normalmente era um grupo que assustava e gostava de zoar com os mais fracos. Alguma coisa deveria acontecer na vida desses garotos que os deixavam assim, enfurecidos, violentos, mas ela acreditava que no fundo todos eram bons, não gostava de julgar, queria entender o que causava tamanha necessidade de ter atenção ou de demonstrar infelicidade. Sim, deviam ser infelizes porque gente feliz não incomoda os outros com seu rancor ou amargura. Pelo menos, era isso que a mãe sempre dizia.

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